O desfile da estreante Giuliana Romanno na São Paulo Fashion
Week tinha ares desérticos. De diversas formas, o conceito de aridez se revela nessa
coleção que não tem nenhum rastro de imaturidade. Pelo contrário, o estilo de
Romanno se coloca na passarela de maneira sólida, direta e concentrada. Sem
afetações teatrais, a estilista apresenta uma moda que consegue pontear o comercial
e o conceitual: tarefa árdua, mas exequível. Mesmo mantendo as roupas no
patamar do “usável/vestível”, sua abordagem não é simplista. Os recortes acontecem
em posições estratégicas e não se restringem a obviedade de uma fenda na perna.
As texturas também são bem trabalhadas, algumas vazadas e outras brilhantes sem
atrapalhar no caimento das peças.
A cartela de cores é um caso a parte. A coleção é composta
majoritariamente por looks monocromáticos. Eventualmente, eles são pontuados
por um acessório de outra cor. Também houve uma série pequena de combinações
entre peças estampadas de rosa-choque e vermelho com outras em azul-marinho num
tecido cintilante. Entretanto, o resultado foi, praticamente, um desfile em
degradé. Primeiro do branco a até o vermelho-alaranjado – passando pelo rosé e
pelo laranja claro – e depois do cobre até o preto. O efeito ao final é muito
impactante.
A somatória desses elementos resulta em uma imagem quente,
mas refinada. A composição executada por Romanno envolve, ao mesmo tempo,
fluidez e geometria. Ela é, realmente, um dos casos de novos estilistas no SPFW
que não estão lá só para fazer volume em uma semana de moda que vivia de nomes
já consagrados, mas para renovar o olhar cansado de quem acompanha o evento.
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