quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

THE GIRL OF "GIRLS"

CONTÉM SPOILERS

Recentemente, começou a terceira temporada da série “Girls” – que vai ao ar mundialmente pela HBO– e garantiu, novamente, a Lena Dunham – criadora, roteirista e diretora da série – uma nova estadia no foco dos holofotes da mídia especializada. Por essa razão ela saiu, como todas as garotas nessa situação, extremamente retocada na capa da última edição da principal revista de moda do mundo – a Vogue America, da consagrada diaba Anna Wintour. O debate, então, reacende:  Lena/Hannah – sua personagem alter-ego na série – é quem somos, nos representa, ou é, na verdade, quem gostaríamos de ser?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CONTO: CABELO - PT.2 - FINAL

Dentro do seu peito sentiu alguém ficar assustado com aquele fenômeno. Contudo, esse alguém ou essa parte de seu ser não se manifestou externamente. Sua expressão manteve-se estática. Observava aquele horror e encarava-o como uma manifestação natural. A sua natureza a assustava, mas ela continuou quieta. Aos poucos o terror foi se esvaindo e dando lugar a um conformismo alienante. Ela não se importava mais, foi se entregando aquele cabelo que crescia involuntária e vagarosamente de seu couro cabeludo. Seus fios nunca pareceram tão fortes. Ela decidiu tocar os cabelos novamente pela primeira vez. Tocou a virgindade dos novos folículos próximos à cabeça. Sentiu-se exposta, auto-flagelada, mas sentiu prazer. Todo o arrepio que poderia se espalhar deliciosamente por todo seu corpo concentrava-se nos fios de cabelo que, certamente, agora tinham terminações nervosas fervorosas. Ela sentia as pontas dos seus fios, era como se todo o cabelo tivesse adquirido tato. Ao mesmo o seu corpo foi perdendo esse sentido: amolecia e formigava das extremidades até os órgãos em uma cadência rítmica e intensa, apesar de demorada e insistente.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CONTO: CABELO - PT. 1



Musculaturas de partes aleatórias de seu corpo e, até mesmo, algumas outras não conhecidas foram acionadas no intuito de puxar suas pálpebras para cima. Os cílios, anteriormente trançados entre si em um trabalho quase artesanal de tramas que durou toda a madrugada e boa parte da manhã enquanto dormia, finalmente se desatavam penosamente em resposta a agitação muscular que expressava um desejo poderoso pela lucidez do despertar. A circunferência de sua pupila, quando entrou em contato com a atmosfera, ainda escondia uma parte majoritária de sua íris intimidada pela escuridão de seu sono. Suas têmporas latejavam e guerreavam com as tentativas voluntárias de seu corpo em acordar. Empurravam as pálpebras para baixo, amarravam os nós dos cílios ainda mais, selavam essa combinação com a secreção ocular que escorre dali durante a noite. Uma luta entre os processos conscientes e inconscientes de si mesma. Ela guerreava contra si e girava lentamente. Girava lentamente, mas girava. Escorregava um de seus ombros para baixo de suas costas e projetava o corpo de modo a terminar a volta pondo-se de bruços em um processo interminável. Ao desistir dos rodopios, suas narinas estavam sufocadas entre a aspereza dos fios de seu cabelo e a maciez do algodão da fronha de seu travesseiro que serviu de campo de batalha para a noite insalubre que seus impulsos cerebrais a proporcionaram. Não conseguia respirar. Depois de alguns segundos nada angustiantes, a asfixia obrigou seu corpo a abrir violentamente a sua boca. Os lábios se desgrudaram e, por um espaço pequeno entre fios de cabelo, travesseiro e carne, uma grande quantidade de oxigênio foi sugada para brônquios desesperados com a inanição de uma consciência de si inconsequente, mas efetiva. A razão do despertar vencera.