CONTÉM SPOILERS
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
THE GIRL OF "GIRLS"
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
CONTO: CABELO - PT.2 - FINAL
Dentro do seu peito sentiu alguém ficar assustado com
aquele fenômeno. Contudo, esse alguém ou essa parte de seu ser não se
manifestou externamente. Sua expressão manteve-se estática. Observava aquele
horror e encarava-o como uma manifestação natural. A sua natureza a assustava,
mas ela continuou quieta. Aos poucos o terror foi se esvaindo e dando lugar a
um conformismo alienante. Ela não se importava mais, foi se entregando aquele
cabelo que crescia involuntária e vagarosamente de seu couro cabeludo. Seus
fios nunca pareceram tão fortes. Ela decidiu tocar os cabelos novamente pela
primeira vez. Tocou a virgindade dos novos folículos próximos à cabeça.
Sentiu-se exposta, auto-flagelada, mas sentiu prazer. Todo o arrepio que
poderia se espalhar deliciosamente por todo seu corpo concentrava-se nos fios
de cabelo que, certamente, agora tinham terminações nervosas fervorosas. Ela
sentia as pontas dos seus fios, era como se todo o cabelo tivesse adquirido
tato. Ao mesmo o seu corpo foi perdendo esse sentido: amolecia e formigava das
extremidades até os órgãos em uma cadência rítmica e intensa, apesar de
demorada e insistente.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
CONTO: CABELO - PT. 1

Musculaturas de partes aleatórias de seu corpo e, até mesmo,
algumas outras não conhecidas foram acionadas no intuito de puxar suas
pálpebras para cima. Os cílios, anteriormente trançados entre si em um trabalho
quase artesanal de tramas que durou toda a madrugada e boa parte da manhã
enquanto dormia, finalmente se desatavam penosamente em resposta a agitação
muscular que expressava um desejo poderoso pela lucidez do despertar. A
circunferência de sua pupila, quando entrou em contato com a atmosfera, ainda
escondia uma parte majoritária de sua íris intimidada pela escuridão de seu
sono. Suas têmporas latejavam e guerreavam com as tentativas voluntárias de seu
corpo em acordar. Empurravam as pálpebras para baixo, amarravam os nós dos
cílios ainda mais, selavam essa combinação com a secreção ocular que escorre
dali durante a noite. Uma luta entre os processos conscientes e inconscientes
de si mesma. Ela guerreava contra si e girava lentamente. Girava lentamente,
mas girava. Escorregava um de seus ombros para baixo de suas costas e projetava
o corpo de modo a terminar a volta pondo-se de bruços em um processo
interminável. Ao desistir dos rodopios, suas narinas estavam sufocadas entre a
aspereza dos fios de seu cabelo e a maciez do algodão da fronha de seu travesseiro
que serviu de campo de batalha para a noite insalubre que seus impulsos
cerebrais a proporcionaram. Não conseguia respirar. Depois de alguns segundos
nada angustiantes, a asfixia obrigou seu corpo a abrir violentamente a sua
boca. Os lábios se desgrudaram e, por um espaço pequeno entre fios de cabelo,
travesseiro e carne, uma grande quantidade de oxigênio foi sugada para
brônquios desesperados com a inanição de uma consciência de si inconsequente,
mas efetiva. A razão do despertar vencera.
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